Sabemos que “somos o que comemos”. Mas a ciência moderna tem revelado algo ainda mais profundo: somos, em grande parte, o que fermenta em nosso intestino. Nos últimos anos, um número crescente de estudos científicos vem mostrando que o microbioma intestinal – a comunidade de trilhões de microrganismos que habita nosso intestino – exerce influência direta sobre o cérebro, o sistema imunológico e a saúde como um todo.
Um artigo publicado recentemente na Academia Biology (2024) destacou o papel central da microbiota na origem e progressão de doenças desmielinizantes do sistema nervoso, como: Esclerose Múltipla (EM), Neuromielite Óptica (NMOSD) , Polineuropatia Inflamatória Desmielinizante Crônica (CIDP) e a Síndrome de Guillain-Barré (GBS).
Essas condições têm em comum o ataque autoimune contra a bainha de mielina, e evidências crescentes apontam que desequilíbrios intestinais (disbiose) podem ativar essas respostas imunológicas aberrantes.
Além das doenças neurológicas autoimunes, diversas outras condições já foram associadas à disbiose intestinal, incluindo:
Doenças metabólicas (obesidade, diabetes tipo 2)
Transtornos psiquiátricos (depressão, autismo)
Doenças inflamatórias intestinais
Câncer colorretal
Alergias, asma e doenças dermatológicas
Desde o nascimento até a vida adulta, inúmeros fatores modulam a composição da microbiota:
Genética
Tipo de parto e amamentação
Dieta rica em fibras e alimentos naturais
Contato com ambientes diversos e natureza
Atividade física regular
Por outro lado, fatores como uso excessivo de antibióticos, alimentos ultraprocessados, estresse crônico e sedentarismo comprometem a qualidade desse ecossistema microbiano vital.
A comunicação entre intestino e cérebro, conhecida como eixo intestino-cérebro, é mediada por neurotransmissores produzidos por bactérias (como GABA e serotonina), metabólitos inflamatórios e substâncias imunomoduladoras.
Em modelos experimentais de esclerose múltipla, por exemplo, o transplante fecal de microbiota de pacientes com EM para camundongos germ-free foi suficiente para desencadear sintomas neurológicos nos animais.
Já sabemos que modular a microbiota pode ser uma poderosa estratégia de prevenção e tratamento!
Probióticos e prebióticos têm demonstrado efeitos anti-inflamatórios e imunorreguladores
Dietas ricas em fibras, vegetais e alimentos fermentados restauram a diversidade microbiana
Estilo de vida saudável protege tanto o intestino quanto o cérebro
O cuidado com a saúde intestinal é um investimento em saúde neurológica, imunológica e emocional. Ao compreendermos a microbiota como um elo entre ambiente, sistema imune e cérebro, abrimos caminho para intervenções personalizadas, integrativas e preventivas.